A Ação de Graças Paulina: Um Estudo de Crítica de Forma ou Crítica Literária (Análise Epistolar)
Tanto a linguagem falada quanto a linguagem escrita usa “formas” e “fórmulas” prontas para facilitar a comunicação. Chamamos aqui de “fórmulas” as construções menores que compõe um discurso e de “formas” as macro-estruturas de um discurso inteiro ou parte significativa dele. Vejam abaixo algumas fórmulas e formas usadas na língua portuguesa (como um falante da língua, você deve ser capaz de detectar quais tipos de discursos são esses):
Linguagem falada | Linguagem escrita |
“não é por nada não, mas” | …, isto é, … |
“Senhor Doutor Fulano de Tal, presidente de sei lá onde, senhor Cicrano de Tal, diretor de tralalá, meritíssimo Virgulino dos Anzóis, pais, cônjuges e caros colegas alunos aqui presentes, formandos da turma Zeta da Universidade X. É com grande alegria e honra que…” | Cidade, dia do mês do ano. Caro XXXX, venho por meio desta solicitar que ……… Atenciosamente, YYYYY |
“Você já ouviu aquela do gato que…” | Era uma vez… |
“Senhoras e Senhores, neste momento tão significativo, seria bom refletirmos” | Por este instrumento particular de procuração, eu, __________ (nome) _________, nascido(a) em ___/___/_____, _________, _______, (nacionalidade) (estado civil) portador(a) da cédula de identidade RG nº: ________, inscrito(a) no CPF/MF sob nº: _______, residente e domiciliado(a) na, ___________ (rua, avenida, praça, etc e nº) ________________________, _________________________________, (bairro) ___________________________________, ________, ________________, _________________, (cidade) (estado – UF) (CEP) (telefone) nomeio e constituo meu (minha) bastante procurador(a) o(a) Sr.(a) __________ (nome) ________, nascido(a) em ___/___/_____, _______________, ______________, (nacionalidade) (estado civil) portador(a) da cédula de identidade RG nº: _______________________, inscrito(a) no CPF/MF sob nº: ___________________, residente e domiciliado(a) na, ___________________ (rua, avenida, praça, etc e nº) __________________, __________, (bairro) ______________________, ________, ________________, _________________, (cidade) (estado – UF) (CEP) (telefone) a quem confiro os mais amplos, gerais e ilimitados poderes para: tratar, requerer, assinar papéis, documentos, concordar ou não com o que se faça necessário junto à FUNDAÇÃO PROCON-SP para o bom e fiel cumprimento do presente mandato. São Paulo, _____ de ___________ de ______. |
Considerando X; e considerando Y. Considerando ainda que Z. Venho por meio desta requerer (propor, exigir, solicitar). |
Esse mesmo fenômeno da existência de formas e fórmulas acontece em todas as línguas e culturas de todas as épocas. Cada cultura tem a sua maneira específica de contar uma história, convencer um grupo, escrever uma carta, um recibo, uma notícia ou contar uma piada.
Os falantes da própria língua não precisam pensar muito a respeito disso, pois uma vez que estão imersos em sua própria cultura, conseguem decodificar e produzir os tipos mais simples de discursos com grande facilidade. Pessoas de outras culturas precisam entender códigos, fórmulas e formas a fim e compreender e comunicar efetivamente naquela língua.
Quanto tratamos de língua antigas, além do distanciamento temporal e de idioma, temos também esse distanciamento formal, por vezes temos que lidar com formas/fórmulas (semi-)ausentes em nossa própria cultura (ex.: palavras de encantamento) ou com formas/fórmulas muito diferentes das nossas. Assim, existem duas disciplinas que tratam desse estudo das formas. Uma é a crítica de forma que tenta estabelecer como eram as formas usadas em discurso oral.[1] A outra disciplina é a crítica literária, que tenta decifrar como são as formas usadas nos escritos antigos.[2]
Esse é o caso das cartas gregas escritas entre os séculos 3 a.C. e 3 d.C. Elas têm formas peculiares e para melhor compreendê-las é sábio estudar essas formas. Uma carta grega normalmente tinha a seguinte estrutura:
Prescrito (Abertura, Introdução Epistolar) Fórmula do remetente Fórmula do Destinatário Saudação Ação de graças aos deuses ou desejo de saúde Corpo Proscrito (Conclusão Epistolar) Ordens finais Saudações Autógrafo |
O apóstolo Paulo, sendo um dos grandes escritores da língua grega de sua época, usou a formas epistolares de sua época, mas deu um toque pessoal nas mesmas.
Prescrito (Abertura, Introdução Epistolar) Fórmula do remetente Fórmula do Destinatário Saudação com graça e paz Ação de Graças a Deus ou Eulogia Corpo Proscrito (Conclusão Epistolar) Bênção de paz Ordens finais Saudações Ordem quanto ao beijo santo Autógrafo Bênção da Graça |
O meu objetivo nesse texto é apresentar uma das formas que o apóstolo Paulo usa em suas cartas chamada “Ação de Graças”. Antes de Paulo, essa era apenas uma fórmula usada dentro da introdução epistolar. Paulo a desenvolveu ao ponto de se tornar uma forma completa em seus próprios méritos. Das 13 cartas de Paulo, 5 não tem a seção ode ação de graças (2 Coríntios, Gálatas, 1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito). As outras oito cartas têm (Romanos, 1 Coríntios, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 Tessalonicenses, 2 Tessalonicenses e Filemom).
Como é a ação de graças paulina? Embora nem todas essas partes apareçam todas as vezes e Paulo também não se faz um refém da fórmula, mas usa de liberdade conforme a necessidade, as partes comuns que encontramos nas Ações de Graças paulinas são as seguintes:
Verbo de gratidão: Εὐχαριστῶ Quem é agradecido: τῷ θεῷManeira como Paulo agradece com particípio/advérbio: lembrando, fazendo menção nas minhas orações, sempre.Motivo da gratidão introduzido com ἐπὶ ou περὶ.Explicação do motivo introduzido normalmente com ὅτι e explicação adicional comγάρ.Relatório de oração (προσευχή) |
L. Ann Jervis, propõe que a ação de graças paulina é composta de (1) Verbo Principal e objeto pessoal: “Εὐχαριστῶ τῷ θεῷ”; (2) Maneira da ação de graças: construções adverbiais ou participiais que indicam a o modo da gratidão + objeto pronominal; (3) Causa da ação de graças: construções causais em forma de expressões usando ἐπὶ ou ὅτι e/ou cláusulas participiais (normalmente verbos ligados a aprender ou ouvir) que dão a razão para a ação de graças de Paulo; (4) Explicação: καθὼς, γάρ ou ὥστε que normalmente mudam a unidade anterior e desenvolvem ainda mais a ação de graças; e (5) Relatório de Oração: Um relatório daquilo que Paulo ora pelos destinatários envolvendo o verbo Eu oro (προσεύχομαι) + ἵνα, ὅπως ou εἴ πως que apresentam o conteúdo da oração.[3]
Talvez você já tenha notado a vantagem de conhecer uma forma. Fica muito fácil de detectá-la e interpretá-la quando você se encontra com uma. Você sabe o que esperar, como interpretar o fluxo de ideias do texto e sabe até mesmo quais partes o autor alterou ou deixou de fora e isso tudo normalmente nos ajuda a encontrar o significado do texto com maior profundidade.
Vejamos abaixo as ações de graças paulina:
Romanos | 1 Coríntios |
8 Πρῶτον μὲν εὐχαριστῶ τῷ θεῷ μου διὰ Ἰησοῦ Χριστοῦ περὶ πάντων ὑμῶν ὅτι ἡ πίστις ὑμῶν καταγγέλλεται ἐν ὅλῳ τῷ κόσμῳ. 9 μάρτυς γάρ μού ἐστιν ὁ θεός, ᾧ λατρεύω ἐν τῷ πνεύματί μου ἐν τῷ εὐαγγελίῳ τοῦ υἱοῦ αὐτοῦ*, ὡς ἀδιαλείπτως μνείαν ὑμῶν ποιοῦμαι 10 πάντοτε ἐπὶ τῶν προσευχῶν μου δεόμενος εἴ πως ἤδη ποτὲ εὐοδωθήσομαι ἐν τῷ θελήματι τοῦ θεοῦ ἐλθεῖν πρὸς ὑμᾶς. 11 ἐπιποθῶ γὰρ ἰδεῖν ὑμᾶς, ἵνα τι μεταδῶ χάρισμα ὑμῖν πνευματικὸν εἰς τὸ στηριχθῆναι ὑμᾶς, 12 τοῦτο δέ ἐστιν συμπαρακληθῆναι ἐν ὑμῖν διὰ τῆς ἐν ἀλλήλοις πίστεως ὑμῶν τε καὶ ἐμοῦ. | 4 Εὐχαριστῶ τῷ θεῷ μου πάντοτε περὶ ὑμῶν ἐπὶ τῇ χάριτι τοῦ θεοῦ τῇ δοθείσῃ ὑμῖν ἐν Χριστῷ Ἰησοῦ, 5 ὅτι ἐν παντὶ ἐπλουτίσθητε ἐν αὐτῷ, ἐν παντὶ λόγῳ καὶ πάσῃ γνώσει, 6 καθὼς τὸ μαρτύριον τοῦ Χριστοῦ ἐβεβαιώθη ἐν ὑμῖν, 7 ὥστε ὑμᾶς μὴ ὑστερεῖσθαι ἐν μηδενὶ χαρίσματι ἀπεκδεχομένους τὴν ἀποκάλυψιν τοῦ κυρίου ἡμῶν Ἰησοῦ Χριστοῦ· 8 ὃς καὶ βεβαιώσει ὑμᾶς ἕως τέλους ἀνεγκλήτους ἐν τῇ ἡμέρᾳ τοῦ κυρίου ἡμῶν Ἰησοῦ [Χριστοῦ]. 9 πιστὸς ὁ θεός, διʼ οὗ ἐκλήθητε εἰς κοινωνίαν τοῦ υἱοῦ αὐτοῦ Ἰησοῦ Χριστοῦ τοῦ κυρίου ἡμῶν. |
Efésios | Filipenses |
15 Διὰ τοῦτο κἀγὼ ἀκούσας τὴν καθʼ ὑμᾶς πίστιν ἐν τῷ κυρίῳ Ἰησοῦ καὶ τὴν ἀγάπην τὴν εἰς πάντας τοὺς ἁγίους 16 οὐ παύομαι εὐχαριστῶν ὑπὲρ ὑμῶν μνείαν ποιούμενος ἐπὶ τῶν προσευχῶν μου, 17 ἵνα ὁ θεὸς τοῦ κυρίου ἡμῶν Ἰησοῦ Χριστοῦ, ὁ πατὴρ τῆς δόξης, δώῃ ὑμῖν πνεῦμα σοφίας καὶ ἀποκαλύψεως ἐν ἐπιγνώσει αὐτοῦ, 18 πεφωτισμένους τοὺς ὀφθαλμοὺς τῆς καρδίας [ὑμῶν] εἰς τὸ εἰδέναι ὑμᾶς τίς ἐστιν ἡ ἐλπὶς τῆς κλήσεως αὐτοῦ, τίς ὁ πλοῦτος τῆς δόξης τῆς κληρονομίας αὐτοῦ ἐν τοῖς ἁγίοις, 19 καὶ τί τὸ ὑπερβάλλον μέγεθος τῆς δυνάμεως αὐτοῦ εἰς ἡμᾶς τοὺς πιστεύοντας κατὰ τὴν ἐνέργειαν τοῦ κράτους τῆς ἰσχύος αὐτοῦ. 20 Ἣν ἐνήργησεν ἐν τῷ Χριστῷ ἐγείρας αὐτὸν ἐκ νεκρῶν καὶ καθίσας ἐν δεξιᾷ αὐτοῦ ἐν τοῖς ἐπουρανίοις 21 ὑπεράνω πάσης ἀρχῆς καὶ ἐξουσίας καὶ δυνάμεως καὶ κυριότητος καὶ παντὸς ὀνόματος ὀνομαζομένου, οὐ μόνον ἐν τῷ αἰῶνι τούτῳ ἀλλὰ καὶ ἐν τῷ μέλλοντι· 22 καὶ πάντα ὑπέταξεν ὑπὸ τοὺς πόδας αὐτοῦ καὶ αὐτὸν ἔδωκεν κεφαλὴν ὑπὲρ πάντα τῇ ἐκκλησίᾳ, 23 ἥτις ἐστὶν τὸ σῶμα αὐτοῦ, τὸ πλήρωμα τοῦ τὰ πάντα ἐν πᾶσιν πληρουμένου. | 3 Εὐχαριστῶ τῷ θεῷ μου ἐπὶ πάσῃ τῇ μνείᾳ ὑμῶν 4 πάντοτε ἐν πάσῃ δεήσει μου ὑπὲρ πάντων ὑμῶν, μετὰ χαρᾶς τὴν δέησιν ποιούμενος, 5 ἐπὶ τῇ κοινωνίᾳ ὑμῶν εἰς τὸ εὐαγγέλιον ἀπὸ τῆς πρώτης ἡμέρας ἄχρι τοῦ νῦν, 6 πεποιθὼς αὐτὸ τοῦτο,* ὅτι ὁ ἐναρξάμενος ἐν ὑμῖν ἔργον ἀγαθὸν ἐπιτελέσει ἄχρι ἡμέρας Χριστοῦ Ἰησοῦ· 7 Καθώς ἐστιν δίκαιον ἐμοὶ τοῦτο φρονεῖν ὑπὲρ πάντων ὑμῶν διὰ τὸ ἔχειν με ἐν τῇ καρδίᾳ ὑμᾶς, ἔν τε τοῖς δεσμοῖς μου καὶ ἐν τῇ ἀπολογίᾳ καὶ βεβαιώσει τοῦ εὐαγγελίου συγκοινωνούς μου τῆς χάριτος πάντας ὑμᾶς ὄντας.* 8 μάρτυς γάρ ⸀μου ⸆ ὁ θεὸς ὡς ἐπιποθῶ πάντας ὑμᾶς ἐν σπλάγχνοις Χριστοῦ Ἰησοῦ.* 9 Καὶ τοῦτο προσεύχομαι,* ἵνα ἡ ἀγάπη ὑμῶν ἔτι μᾶλλον καὶ μᾶλλον ⸀περισσεύῃ ἐν ἐπιγνώσει καὶ πάσῃ αἰσθήσει 10 εἰς τὸ δοκιμάζειν ὑμᾶς τὰ διαφέροντα,* ἵνα ἦτε εἰλικρινεῖς καὶ ἀπρόσκοποι εἰς ἡμέραν Χριστοῦ, 11 πεπληρωμένοι καρπὸν δικαιοσύνης τὸν διὰ Ἰησοῦ Χριστοῦ εἰς δόξαν καὶ ἔπαινον θεοῦ. |
Colossenses | 1 Tessalonicenses |
3 Εὐχαριστοῦμεν τῷ θεῷ πατρὶ τοῦ κυρίου ἡμῶν Ἰησοῦ Χριστοῦ πάντοτε περὶ ὑμῶν προσευχόμενοι, 4 ἀκούσαντες τὴν πίστιν ὑμῶν ἐν Χριστῷ Ἰησοῦ καὶ τὴν ἀγάπην ἣν ἔχετε εἰς πάντας τοὺς ἁγίους 5 διὰ τὴν ἐλπίδα τὴν ἀποκειμένην ὑμῖν ἐν τοῖς οὐρανοῖς, ἣν προηκούσατε ἐν τῷ λόγῳ τῆς ἀληθείας τοῦ εὐαγγελίου 6 τοῦ παρόντος εἰς ὑμᾶς, καθὼς καὶ ἐν παντὶ τῷ κόσμῳ ἐστὶν καρποφορούμενον καὶ αὐξανόμενον καθὼς καὶ ἐν ὑμῖν, ἀφʼ ἧς ἡμέρας ἠκούσατε καὶ ἐπέγνωτε τὴν χάριν τοῦ θεοῦ ἐν ἀληθείᾳ· 7 καθὼς ἐμάθετε ἀπὸ Ἐπαφρᾶ τοῦ ἀγαπητοῦ συνδούλου ἡμῶν, ὅς ἐστιν πιστὸς ὑπὲρ ὑμῶν διάκονος τοῦ Χριστοῦ, 8 ὁ καὶ δηλώσας ἡμῖν τὴν ὑμῶν ἀγάπην ἐν πνεύματι. | 2 Εὐχαριστοῦμεν τῷ θεῷ πάντοτε περὶ πάντων ὑμῶν μνείαν ποιούμενοι ἐπὶ τῶν προσευχῶν ἡμῶν, ἀδιαλείπτως 3 μνημονεύοντες ὑμῶν τοῦ ἔργου τῆς πίστεως καὶ τοῦ κόπου τῆς ἀγάπης καὶ τῆς ὑπομονῆς τῆς ἐλπίδος τοῦ κυρίου ἡμῶν Ἰησοῦ Χριστοῦ ἔμπροσθεν τοῦ θεοῦ καὶ πατρὸς ἡμῶν, 4 εἰδότες, ἀδελφοὶ ἠγαπημένοι ὑπὸ [τοῦ] θεοῦ, τὴν ἐκλογὴν ὑμῶν, 5 ὅτι τὸ εὐαγγέλιον ἡμῶν οὐκ ἐγενήθη εἰς ὑμᾶς ἐν λόγῳ μόνον ἀλλὰ καὶ ἐν δυνάμει καὶ ἐν πνεύματι ἁγίῳ καὶ [ἐν] πληροφορίᾳ πολλῇ, καθὼς οἴδατε οἷοι ἐγενήθημεν [ἐν] ὑμῖν διʼ ὑμᾶς. 6 Καὶ ὑμεῖς μιμηταὶ ἡμῶν ἐγενήθητε καὶ τοῦ κυρίου, δεξάμενοι τὸν λόγον ἐν θλίψει πολλῇ μετὰ χαρᾶς πνεύματος ἁγίου, 7 ὥστε γενέσθαι ὑμᾶς τύπον πᾶσιν τοῖς πιστεύουσιν ἐν τῇ Μακεδονίᾳ καὶ ἐν τῇ Ἀχαΐᾳ. 8 ἀφʼ ὑμῶν γὰρ ἐξήχηται ὁ λόγος τοῦ κυρίου οὐ μόνον ἐν τῇ Μακεδονίᾳ καὶ ⸂[ἐν τῇ]⸃ Ἀχαΐᾳ, ἀλλʼ ἐν παντὶ τόπῳ ἡ πίστις ὑμῶν ἡ πρὸς τὸν θεὸν ἐξελήλυθεν*, ὥστε μὴ χρείαν ἔχειν ἡμᾶς λαλεῖν τι.* 9 αὐτοὶ γὰρ περὶ ⸀ἡμῶν ἀπαγγέλλουσιν ὁποίαν εἴσοδον ἔσχομεν πρὸς ὑμᾶς, καὶ πῶς ἐπεστρέψατε πρὸς τὸν θεὸν ἀπὸ τῶν εἰδώλων δουλεύειν θεῷ ζῶντι καὶ ἀληθινῷ* 10 καὶ ⸀ἀναμένειν τὸν υἱὸν αὐτοῦ ἐκ τῶν οὐρανῶν, ὃν ἤγειρεν ἐκ °[τῶν] νεκρῶν, Ἰησοῦν τὸν ῥυόμενον ἡμᾶς ⸁ἐκ τῆς ὀργῆς τῆς ἐρχομένης.* |
2 Tessalonicenses | Filemom |
*3 Εὐχαριστεῖν ὀφείλομεν τῷ θεῷ πάντοτε περὶ ὑμῶν,* ἀδελφοί, καθὼς ἄξιόν ἐστιν, ὅτι ὑπεραυξάνει ἡ πίστις ὑμῶν* καὶ πλεονάζει ἡ ἀγάπη ἑνὸς ἑκάστου πάντων ὑμῶν εἰς ἀλλήλους, 4 ὥστε αὐτοὺς ἡμᾶς ἐν ὑμῖν ἐγκαυχᾶσθαι ἐν ταῖς ἐκκλησίαις τοῦ θεοῦ ὑπὲρ τῆς ὑπομονῆς ὑμῶν καὶ πίστεως ἐν πᾶσιν τοῖς διωγμοῖς ὑμῶν καὶ ταῖς θλίψεσιν αἷς ἀνέχεσθε, 5 ἔνδειγμα τῆς δικαίας κρίσεως τοῦ θεοῦ εἰς τὸ καταξιωθῆναι ὑμᾶς τῆς βασιλείας τοῦ θεοῦ, ὑπὲρ ἧς καὶ πάσχετε, 6 εἴπερ δίκαιον παρὰ θεῷ ἀνταποδοῦναι τοῖς θλίβουσιν ὑμᾶς θλῖψιν 7 καὶ ὑμῖν τοῖς θλιβομένοις ἄνεσιν μεθʼ ἡμῶν, ἐν τῇ ἀποκαλύψει τοῦ κυρίου Ἰησοῦ ἀπʼ οὐρανοῦ μετʼ ἀγγέλων δυνάμεως αὐτοῦ 8 ἐν πυρὶ φλογός, διδόντος ἐκδίκησιν τοῖς μὴ εἰδόσιν θεὸν καὶ τοῖς μὴ ὑπακούουσιν τῷ εὐαγγελίῳ τοῦ κυρίου ἡμῶν Ἰησοῦ, 9 οἵτινες δίκην τίσουσιν ὄλεθρον αἰώνιον ἀπὸ προσώπου τοῦ κυρίου καὶ ἀπὸ τῆς δόξης τῆς ἰσχύος αὐτοῦ, 10 ὅταν ἔλθῃ ἐνδοξασθῆναι ἐν τοῖς ἁγίοις αὐτοῦ καὶ θαυμασθῆναι ἐν πᾶσιν τοῖς πιστεύσασιν, ὅτι ⸁ἐπιστεύθη τὸ μαρτύριον ἡμῶν ἐφʼ ὑμᾶς, ἐν τῇ ἡμέρᾳ ἐκείνῃ. 11 Εἰς ὃ καὶ προσευχόμεθα πάντοτε περὶ ὑμῶν, ἵνα ὑμᾶς ἀξιώσῃ τῆς κλήσεως ὁ θεὸς ἡμῶν καὶ πληρώσῃ πᾶσαν εὐδοκίαν ἀγαθωσύνης καὶ ἔργον πίστεως ἐν δυνάμει, 12 ὅπως ἐνδοξασθῇ τὸ ὄνομα τοῦ κυρίου ἡμῶν Ἰησοῦ ἐν ὑμῖν, καὶ ὑμεῖς ἐν αὐτῷ, κατὰ τὴν χάριν τοῦ θεοῦ ἡμῶν καὶ κυρίου Ἰησοῦ Χριστοῦ. | 4 Εὐχαριστῶ τῷ θεῷ μου πάντοτε μνείαν σου ποιούμενος ἐπὶ τῶν προσευχῶν μου, 5 ἀκούων σου τὴν ἀγάπην καὶ τὴν πίστιν, ἣν ἔχεις πρὸς τὸν κύριον Ἰησοῦν καὶ εἰς πάντας τοὺς ἁγίους, 6 ὅπως ἡ κοινωνία τῆς πίστεώς σου ἐνεργὴς γένηται ἐν ἐπιγνώσει παντὸς ἀγαθοῦ τοῦ ἐν ἡμῖν εἰς Χριστόν. 7 χαρὰν γὰρ πολλὴν ἔσχον καὶ παράκλησιν ἐπὶ τῇ ἀγάπῃ σου, ὅτι τὰ σπλάγχνα τῶν ἁγίων ἀναπέπαυται διὰ σοῦ, ἀδελφέ. |
E qual é a utilidade dessa sessão de Ação de Graças? A resposta de Peter O’Brien é que as funções são (1) demonstrar a profunda preocupação pastoral e apostólica de Paulo, de forma que mesmo que Paulo fale palavras duras ao longo da carta, eles tem o seu amor e preocupação garantidos logo de início; (2) função didática: ao destacar os seus motivos de gratidão e pedidos de oração específicos por aqueles indivíduos, Paulo está relembrando a eles assuntos sobre os quais já tratou bem como ensinando novos assuntos e apontando para novas necessidades; (3) função parentética a ação de graças prepara o leitor para o conteúdo posterior da carta, preparando inclusive o ethos no qual a carta deve ser lida; e, finalmente, segundo O’Brien, a ação de graças também tem uma (4) função epistolar, que outros estudiosos chamam de antecipatória, no sentido de que a ação de graças introduz e indica os principais temas que serão tratados ao longo da carta.[4]
Falando sobre essa última função da Ação de Graças, Randolph Richards diz:
Paulo frequentemente antecipa o conteúdo de sua carta na ação de graças. Em 1 Coríntios 1.4-7, Paulo agradece porque a igreja coríntia havia sido enriquecida em palavra e conhecimento de forma que não lhes faltava nenhum dom espiritual. Paulo, então, gasta partes substantivas da carta lidando com questões relacionadas com a fala e com dons espirituais (línguas, profecias etc.). Visto que Paulo frequentemente usa a sua ação de graças para habilmente introduzir os temas da carta, Paulo desenvolveu ações de graças muitos maiores do que as breves e formulaicas encontradas em algumas cartas greco-romanas. Ele também colocou a sua ação de graças no começo da carta (logo depois do remetente para destinatário), que era uma localização menos comum para uma ação de graças.[5]
Existem ótimos estudos sobre as formas utilizadas nas cartas paulinas. Esse campo específico de estudos tem sido chamado de Análise Epistolar. Aqui nesse texto, o nosso objetivo foi apresentar um estudo introdutório das ações de graças das cartas de Paulo. Uma ótima maneira de dar seguimento a esse estudo é apresentar uma análise de cada ação de graças em Paulo, verificando como a ação de graças específica se relaciona com o restante da carta e com as demais ações de graças da própria carta e de outras cartas.
[1] “A crítica de forma (form criticism; formgeschichte) pode ser definida de maneira genérica como a análise das formas típicas pelas quais a existência humana é expressada linguisticamente; tradicionalmente, isso se referia particularmente ao seu estado oral pré-literário, tais como lendas, hinos, ladições, lamentos etc.” Richard N. Soulen and R. Kendall Soulen, Handbook of Biblical Criticism (Louisville: Westminster J. Knox Press, 2001), 61.
[2] “Crítica Literária (Literary Criticism) tem ao menos três definições bem diferentes de acordo com os seus usos no séc. 19, início e meio do séc. 20 e uso contemporâneo. Todas as três permanecem em uso hoje, fazendo com que o termo “crítica literária” seja um dos mais potencialmente ambíguos no campos dos estudos bíblicos, (1) Originalmente, o termo se referia a uma abordagem particular ao estudo histórico da Escritura que apareceu de maneira sistemática no séc. 19 e que agora é mais familiarmente conhecido e praticado como Crítica da Fonte. (2) No começo e meio do séc. 20, o termo “crítica literária” passou a ser usado para se referir à tentativas de explicara intenção e feitos do autor por meio de uma análise detalhada dos elementos retóricos e da estrutura literária do texto. (3) No uso contemporâneo, o termo frequentemente refere-se de maneira bem ampla a qualquer tentativa de compreender a literatura bíblica de uma maneira que seja paralela em interesses e teorias de críticos literários e teoristas modernos em geral, tais como I. A. Richards, T. S. Eliot, N. Frye, J. Derrida, M. M. Bakhtin e outros”. Soulen and Soulen, Handbook of Biblical Criticism, 105.
[3] L. Ann Jervis, The Purpose of Romans (Sheffield: JSOT Press, 1991), 90–92. Agradeço ao Dr. Jeffrey Weyma que me introduziu aos estudos epistolares.
[4] Peter O’Brien, Introductory Thanksgivings in the Letters of Paul (Leiden: E.J. Brill, 1977), 14–15. Na conclusão de sua tese, O’Brien diz: “A ação de graças introdutória de Paulo tem uma função variada: epistolar, didática e parentética e eles provêm evidência de seu cuidado pastoral e/ou apostólico pelos destinatários. Em alguns casos, um propósito pode predominar enquanto os demais ficam nos bastidores. Mas qualquer que seja o significado de qualquer passagem, fica claro que as ações de graças introdutórias de Paulo não eram recursos [formas] sem sentido. Em vez disso, eles eram parte integral de suas cartas, estabelecendo o tom e os temas do que se seguiria”. (p. 263)
[5] E Randolph Richards, Paul and First-Century Letter Writing Secretaries, Composition, and Collection (London: Spck Publishing, 2005), 132.
Bem legal, João Paulo! Não conheço nada escrito em português ainda sobre seções de ações de graças nas epístolas paulinas. Vou recomendar esse post aos meus alunos quando estudarmos o tópico.
João Paulo Thomaz de Aquino, muito obrigado pelo material. Fico grato pela
sua cooperação na teologia Bíblica em nosso pais.
Forte abraço.
Ministro Presbiteriano José Tiago Xavier Costa
Santa Cruz do Capibaribe, PE
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